sábado, 19 de julho de 2008
Eu fui à Lua
sábado, 21 de junho de 2008
Avisos insólitos aos navegantes: fora, porcalhões
Amigos sem fronteira
domingo, 8 de junho de 2008
A matemática dos olhos verdes
- Ele chegou! - anunciou a assessora.
A secretária de Admininstração suava. O terror das prefeituras já estava na recepção. O órgão externo responsável pelo controle das contas não teve pena daquele pequeno município litorâneo e mandou seu inspetor mais rígido para virar do avesso planilhas, folha de pagamento, licitações. A secretária já sabia que nas finanças da cidade 2 + 2 nem sempre davam 4. E enxugava a gota gorda de suor que escorria pelo pescoço.
- Bom Dia. Quero ver todos os processos de licitação de janeiro a dezembro deste ano - ordenou o inspetor.
- Mas é muita papelada. O senhor não prefere conferir um mês de cada vez? - disse a secretária.
- Não. Quero tudo nessa mesa em meia hora.
Em meia hora quilos de papel começaram a entrar pela sala em um carrinho desses de transportar caixas. Eram tantos processos que nem dava para ver quem em estava atrás daquela pilha. Quando o 0001/2007 baixou na mesa deu para ver os primeiros fios de cabelo louro. Ao descarregar o 0002/2007, surgiram olhos cor de esmeralda emoldurados por cílios imensos. No 0005/2007, os peitos quase pularam do decote em cima do inspetor. Aquele baixinho barrigudo não ficaria imune a Ana Maria. Não havia funcionário que não salivasse ao vê-la desfilar na repartição.
- O senhor deseja mais alguma coisa? - perguntou a funcionária, bem de-va-ga-ri-nho, apoiando os cotovelos na mesa.
- Não - disse ele, que baixou os olhos e continuou na sua fúria investigadora.
Passou o primeiro, o segundo, o terceiro dia e nada. O cara era uma rocha. Nada o desconcentrava. Pior, notaram que quando Ana Maria entrava na sala a sanha inquisidora do inspetor aumentava. O plano de mandar a gostosa distraí-lo foi por água abaixo.
No quarto dia, Ana Maria não apareceu. Voltou para sua função. O fiscal não parava de fazer anotações e pedir xerox dos processos. Crescia a certeza de que a prefeitura seria condenada. A secretária resolveu escalar logo um advogado para acompanhá-lo. Foi decidido que Adriano seria a sombra do inspetor. Na quinta-feira, ele apareceu com a folha de pagamento de junho.
- Bom dia - saudou o advogado, um jovem alto, de cabelos negros e olhos verde-claros, realçados pela pele morena.
- Bom dia! - respondeu o inspetor, numa simpatia jamais vista.
A inspeção ainda demorou bastante. Mas tudo mudou depois daquela quinta-feira. O inspetor virou amigo da secretária. Em vez de caretas, distribuía sorrisos. Em seu relatório, concluiu que as contas do município eram transparentes, claras... como os olhos de Adriano.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
O Rei do Rio
O papo começou no Jornalismo e acabou no futebol.
- O cara ganhou uma Libertadores e o Campeonato Mundial para o Grêmio, era ídolo do Brasil todo, mas foi para o Rio e mudaram o nome dele - me dizia o gremista, chateado.
- Ele não é Renato Gaúcho! Ele é O Renato!!! - completou, indignado, e ainda não resignado, 20 anos após o craque ter se mudado para cá e ganhado o apelido que o diferenciava dos xarás da bola.
- Os outros que mudassem de nome, ele NÃO!!!
Para mim é impossível imaginar a arquibancada festejando o jogador sem aquela cadência RENAAAATO... GAÚÚÚÚÚCHO, batendo palmas com as mãos para cima. Não dá para soltar um RENAAAATO PORTALUUUUUPPI. Mas ele tá identificado assim na página oficial do Grêmio na Internet, na galeria dos heróis do clube. Só no pé da matéria admitem que ele "carregaria para o resto da carreira" o apelido famoso. Orgulhosos, os sulistas não reconhecem na alcunha uma homenagem às coisas boas do Sul. Quando ele aparece por lá, o Olímpico ainda vibra de saudade. Soltam um RENATOOOO ou simplesmente NAAAAAAAATO, que, fala sério, é fofo demais e não combina com ele.
Pois nunca se soube que o atleta se incomodasse com o novo nome. Graças a esse batismo as novas gerações sabem sua origem já que ele adotou o carioca way of life: virou craque no futevôlei, fez da praia seu quintal e, aos pouquinhos, foi transformando a marra em malandragem. O sotaque ele botou na mala e despachou para o Rio Grande do Sul faz tempo.
Tudo bem, se os riograndenses se ofendem com o Gaúcho que grudamos nele, podemos mudar isso. Agora ídolo também dos tricolores daqui e com a mão já roçando a taça da Libertadores, teremos orgulho de rebatizá-lo, definitivamente, de Renato Carioca. E fazer ecoar um ARRA, URRU, O RENATO É NOSSO!!!
P.S.: Pai, Dinho, não troquem a fechadura de casa. No fundo do meu peito continua batendo, calada, uma cruz de malta. Eu juro!!!!
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Babel espanhola
Logo que cheguei, o problema era a pronúncia. Para que fazer o CH soar como TCH se a palavra era igualzinha em português, por exemplo? Se eles entendem o meu chocolate, tá bom, pensei. Fui usar a mesma lógica para o RR. `Estava atrasada e tive que correr por todo el metro´. Também tasquei um ´Rubinho não é bom corredor´. Sem vibrar a língua no céu da boca, o meu correr e corredor soaram como coger e cogedor para eles. Se estivesse só no meio de espanhóis, menos mal, mas diante de 18 latinos... O grupo explodiu numa gargalhada feroz. Coger é transar e cogedor é garanhão na América do Sul. Tinha acabado de dizer que eu era uma versão sobre trilhos da ´Dama do Lotação´.
A pior armadilha foi um iogurte de morangos. Li lá na embalagem: con trozos de fresa. Não ia continuar usando a palavra pedazos si existia outra, mais diferente do português, mais sofisticada. Legal, desde aquela compra no supermercado meus pedaços viraram trozos. Até que um dia depois do jantar, eu e três argentinos reunidos na cozinha, virei para o meu amigo -- que é praticamente um modelo Armani -- e pedi com a maior gentileza do mundo para que ele me desse, por favor, un trozo de seu chocolate. Ele me respondeu com um sorriso sacana e um dueto de gargalhadas ao fundo. Na verdade eu pedira aquilo dele. Ai, ai.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Chamem as garças
- Vai dar até no Jornal Nacional! - emocionou-se o prefeito, já sonhando com a imagem na abertura do telejornal.
A prova de que o curso d´água outrora fedorento estava limpo era linda e singela e comoveria o editor-chefe. Estavam todos convencidos disso.
- Vamos jogar umas garças para nadar lá e aí chamamos a tevê - gritou um secretário, como quem diz eureca!
Uma alma de bom senso na mesa sugeriu primeiro um teste. Foi difícil conter os empolgados, mas, enfim, a turma cedeu. Não sem antes exigir a execução de mais um detalhe.
- Depois a gente compra uns peixes para colocar no rio também - acrescentou o gênio.
A idéia morreu na nascente do rio: a garça virou almoço de vira-lata em dois dias.
A língua capciosa
A praia estava cheia de jovens argentinas calientes também. E uma delas se encantou pelo meu amigo alto e dourado pelo sol. Ele não sabe nem contar em espanhol, mas a coisa andou, ou melhor, correu.
No segundo ato, ela começou a dar instruções. 'Espanhol é fácil, foi tranqüilo, dava para entender tudo', garantiu o moreno. Mas ele não sabia que o 'argentinês' tem uma particularidade que faria a diferença no seu esquenta. Em espanhol, a gente gruda os pronomes que substituem os objetos direto e indireto quando o verbo está no imperativo. E depois se acentua a nova palavra ainda no pedaço que compõe o verbo. Por exemplo: cuéntamelo (contar + me + lo). Mas na Argentina - e no Uruguai é igualzinho -, é bem diferente. Nossos vizinhos subvertem a gramática e fazem da última sílaba, a tônica. Cuéntamelo em 'argentinês' soa contamelô.
Pois bem, além de desconhecer essa manha dos hermanos, ele ainda escutou um ´N´ inexistente na súplica ofegante da argentina, que entrou nos seus ouvidos como chupa melóóóón!!!!.
Meu amigo só descobriu há pouco que errou o alvo em uns dois palmos para cima. Mas garante que matou a fome da portenha.
sábado, 12 de abril de 2008
Perfil grego, cara-de-pau inglesa
sábado, 5 de abril de 2008
Hansel & Gretel e o líder sindical Calamar
Para finalizar, uma listinha de alguns personagens famosíssimos de desenhos animados que periga você achar que são uns desconhecidos se escutar o nome em espanhol. Néstor, um novo amigo argentino, me ajudou a refrescar a memória (che, gracias!).
Pica-pau - Pájaro LocoIrmãos Metralha - Chicos Malos (´garotos malvados´)
Piu-piu - Piolín
Frajola - Gato Silvestre
Professor Pardal - Giro Sintornillos (algo como ´porca sem parafuso´)
Tio Patinhas - Tío Rico ou Rico MacPato na América Latina e Tío Gilito ou Gilito MacPato na Espanha
Huguinho, Zezinho e Luisinho - Hugo, Paco e Luis na América Latina e Juanito, Jorgito e Jaimito na Espanha
Gastão - Glad Consuerte na América do Sul, Narciso Bello na Espanha e Pánfilo Ganso no México
Ligeirinho - Rapidín
Conheci um chileno, do grupo dos sedentos por viagem, que sempre desfilou pelo continente seu apelido inspirado em um simpático personagem da Disney. Por conta de seu cabelo negro, comprido e desgrenhado, ganhou um novo nome: Tribilín. Carregava-o com orgulho até o dia em que eu lhe contei como chamamos esse amigo do Mickey por aqui: Pateta.
Avisos insólitos aos navegantes: manobra radical
domingo, 30 de março de 2008
Pret-à-porter sobre trilhos
domingo, 23 de março de 2008
A banca pornô
Era véspera do primeiro dia de férias e o chefe pediu para ontem uma tarefa que ela acreditava ser para dali a dois meses. Teve que trabalhar até as 23h, não havia remédio. Ih... e a encomenda importante para levar na viagem? Já estava até paga. O jeito foi pedir à vizinha para pegar o pacote para ela.
Solícita, a amiga aproveitou que o marido descera com um amigo para comprar bebida para o jantar e terceirizou a tarefa.
- O quê? Você tá me zoando?
- Não, não é piada. É isso mesmo que você ouviu. É na banca aí da esquina. O cara já está esperando ir alguém lá pegar a encomenda.
Os amigos pararam em frente à banca, minuciosamente descrita minutos antes. Era ali mesmo. O estabelecimento também se dedicava a outras mídias além da impressa, outros negócios, digamos. As paredes estavam forradas com DVDs eróticos piratas. Entre anões pervertidos, maratonistas sexuais e afins, pergunta o marido:
- Che, ficou pronta a cópia do 'Chicken Little' e do 'Corcunda de Notre Dame', da Disney? É para aquela moça do 200 que sempre compra desenhos animados aqui.
O jornaleiro olhou para o amigo do cara, sério e vestido de terno e gravata, e despachou logo a dupla enxugando uma gorda gota de suor que escorria pelo pescoço.
- A gente não faz isso aqui, não.
Chicken Little e o Corcunda já não estavam mais ali há algumas horas. Foram fazer companhia a astros pornôs nacionais no porta-malas de um policial das redondezas.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Caribe gaúcho
Já vai tarde o verão que acaba de dar adeus. Aqui no Rio tomamos mais banho de chuva que de mar e até vestimos casaco para enfrentar 16,6 graus há uns dois meses. Eu esperava muito da estação. Voltara de umas férias frustradas no Caribe, em novembro, e queria revanche debaixo do sol carioca.
Antes de aterrissar nas areias da minha cidade, parei três dias em Porto Alegre. A idéia era bater papo com amigos, conhecer melhor a capital do Rio Grande do Sul, sair para dançar. A minha fúria veranista estava guardada para a Cidade Maravilhosa. Mas fui levada para Capão da Canoa, a uma hora e meia da capital sob um céu sem nuvens e o calor com os quais sonhei e não vi em uma semana de férias nos litorais costa-riquenho e panamenho. Me empolguei. Enfiei na mochila biquíni, boné, canga, óculos de sol, chinelo e dois protetores solares ainda lacrados.
Diante da minha animação, meus cicerones gaúchos, constrangidos, passaram a viagem tratando de baixar a bola do litoral rio-grandense. “A praia é horrível”. “Não é banho de mar, é banho de lodo”. “Você entra de branco e sai de preto”. O circo dos horrores incluía até uma tempestade de areia: “Não dá nem para ficar só tomando sol. O vento nordeste é insuportável”. Meu amigo Rodrigo, o irmão e a mãe praticamente pediam desculpas por levar uma moradora do Rio de Janeiro para Aquele lugar.
Eis que numa curva surge o mar de Capão. “Tá verde!”, gritaram, como quem comemora um gol. E não era só: as ondas estavam pequenas, com espuma branquinha e água na temperatura ideal. Ainda tinha uma brisa para aliviar o calor. Um grupo de nativas desconfiadas dava as costas para o mar e se bronzeava no gramado da praça perto da praia. É uma estratégia já habitual, adotada para driblar a tal ventania que, imaginavam, chegaria a qualquer momento.
Depois de uma semana de chuva no Caribe, e várias outras cinzentas no Rio, confesso: peguei a melhor praia dos últimos cinco meses em Capão da Canoa. Colegas gaúchos que vivem aqui duvidam dessa história. Mas eu juro que é verdade!
terça-feira, 18 de março de 2008
Caras e cores da Argentina
Em La Cumbre, Córdoba, me esbaldei na festa de casamento de um casal binacional, o peruano Renzo e a argentina María. Para provar que o afeto não tem fronteiras, além do Brasil, Chile, Peru, Espanha e Itália mandaram representantes.
Na Quebrada de Humauaca, no Norte, me surpreendi com a abrupta mudança de montanhas verdejantes para morros áridos com cáctus em profusão. E, em Purmamarca, um arco-íris em forma de rocha, o Cerro de los Siete Colores, alegrou meu dia. Lá também fui apresentada à porção andina do país, com habitantes de pele morena, cabelos negros e traços culturais muito semelhantes aos que vi no Peru.
Por ali também, a quase 4 mil metros de altitude, me perdi no branco das salinas imensas, onde as nuvens pareciam ao alcance das mãos. A sede de fotos era insaciável: eu, toda de preto, contrastava com a brancura daquela lâmina salgada cercada de montanhas. O intenso reflexo da luz do sol praticamente me cegava, mas não me vencia. Mesmo sem identificar direito o que a telinha de minha câmera digital enquadrava, não lhe dava sossego.
E ainda teve a colonial Salta, La Linda, que merece o apelido; a acolhedora Jujuy; as reconstruídas ruínas de La Pucará, em Tilcara; o ônibus antigo e cheio de passageiros com o qual cruzei um rio como se estivesse em uma picape 4x4, a caminho de Iruya; as deliciosas quinoa e carne de lhama de Humauaca.
Mas o melhor da Argentina foram os argentinos.
Inteligente, carinhosa, e ávida por aprender português, a estrela da viagem foi a pequena grande Anaclara, 7 anos de muita perspicácia e curiosidade. Filha dos meus anfitriões, os simpáticos e para lá de gente boa Moncho e Alejandra, moradores de Jujuy. Já em Buenos Aires, aprendi com Néstor, de La Plata, que Herbert Vianna se inspirou em um livro de Jorge Amado para compor Lanterna dos Afogados. Em português perfeito, me contou de seu interesse pela cultura brasileira, que alimenta com programas de televisão verde-amarelos postados na Internet em... Angola! Sua namorada, Rita, me presenteou com a máscara de Kulan, o espírito sedutor feminino dos aborígenes da Terra do Fogo, a quem tenho que honrar.
Os novos amigos foram presente da minha querida hermana Marcela, com quem sempre tenho algo a aprender. Ela, Caro e Esteban compõem minha família argentina.
Pelas cores das montanhas, pelo branco das salinas, pelas antigas e novas amizades grito como o ator de Caballos Salvajes:
LA PUTA QUE VALE LA PENA ESTAR VIVA!
segunda-feira, 3 de março de 2008
Comunicação rápida sobre totoras
domingo, 2 de março de 2008
A saudade também é doce
Cabia a minha mãe manter o vaivém de envelopes em dia. Além de notícias de casa, chegavam as do Brasil, através de revistas e jornais que paravam na soleira da minha porta. Eu mandava também umas fotos em papel de vez em quando.
Mas minha mãe se superou nas surpresas via Correios. Estávamos perto da Páscoa, fazendo mil planos de viagem quando um envelope retangular e recheado chega às minhas mãos, trazendo um pouco da minha casa para a Espanha.
Era um pedaço de amor e saudade em forma de barra de chocolate.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Em Cuba, pelo tapete vermelho
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Rum com Coca-cola
Tudo é culpa dos amigos latinos com quem convivi em Madri. Apesar de viver na Espanha, o contato estreito foi com eles, não com espanhóis. Por isso, a temporada madrilenha foi uma imersão na América Latina. Naqueles seis meses, a Coca-cola passou a ser indispensável, apesar de coadjuvante, nas festas no lar Mercosur, apelido do apartamento onde morava. Os argentinos gostavam de Coca com fernet, mas o hit da casa era rum com Coca-cola, bebida que embalou o único porre para valer da minha vida. A Cuba Libre - que lá era apenas "ron con Coca" - rivalizava com a loura gelada.
Voltei para o Rio de Janeiro e, de vez em quando, furo o bloqueio imposto pelo monopólio da (amarga) cerveja e peço a bebida dos piratas misturada com refrigerante.
- Moço, é mais Coca-cola que álcool, tá?
Se o que serve é ambulante, complemento:
- Faz um desconto aí? Você não vai gastar quase nada da bebida mesmo...
Cada vez que digo isso é como se estivesse pedindo uma pedrinha de gelo na Sibéria. "Isso meu avô bebia quando era jovem", ou risadas de espanto é o que costumo ouvir. Não dos garçons, que já são treinados para manter a fleuma diante de qualquer bizarrice, mas dos que dividem a mesa ou a calçada comigo.
Mas eu, sentindo-me uma estrangeira no meio da boemia carioca, insisto:
- Moço, me dá mais rum com Coca?
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Cleópatra carioca
sábado, 26 de janeiro de 2008
Papai Noel azul
Em Porto Alegre, a pior ofensa a um torcedor do Grêmio (cujas cores são branco, preto e azul) é ser confundido com um colorado, um seguidor do Internacional. Logo, vestir vermelho, nem pensar! Conheço um tricolor gaúcho que só vestiu a primeira peça com algum detalhe nessa cor aos 15 anos. A ojeriza vinha de berço. Papai e mamãe felizes na maternidade, chega a freira-enfermeira com o primeiro presentinho: um babador... vermelho. ´Pro meu filho, nãããããooo!´, avisou logo o pai. Tudo bem, eu também não desfilo de rubro-negro por aí despreocupadamente. Mas esse cuidado só vale para o day after de uma goleada ou da conquista de um título pelo Flamengo (arghhh!). Nos outros dias, encaro sem problemas.
Mas na capital gaúcha, tudo que é relacionado a futebol é superlativo. Se alguém que jamais pisou lá for vendado e jogado em um avião, vai saber rapidamente onde está. Se abrir o olho um minuto antes da aterrissagem e olhar pela janela vai ser saudado por um ´Bem-vindo à cidade do campeão do mundo´, em uma placa com um escudo do Grêmio à beira da pista de pouso. Os rivais já esfregam na cara deles o mesmo título há mais de um ano, mas o outdoor continua lá. Em qualquer shopping há um quiosque para os dois times venderem seus acessórios e camisas de todos os tamanhos, para homem, mulher, bebê.
Mas só percebi realmente como o bolso e o sangue (azul) de um gremista têm poder ao passar na frente do estádio Olímpico, sua sede. Os caras que mudaram as cores que vestem o Bom Velhinho desde 1866 - quando ele apareceu pela primeira vez de vermelho e branco em uma ilustração da revista americana Harper´s Weekly - podiam mais.
Na fachada do estádio e abaixo da arquibancada, naquelas placas publicitárias, a Coca-Cola brilha. Em preto e branco. Dá só uma olhada em http://www.gremio.net/news/view.aspx?id=1684. Ah, no Inter o esquema se repete. O azul do Banrisul, o banco do estado, virou vermelho no Beira-Rio.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
A culpa é do frio
Todos bonitos, solteiros, simpáticos, inteligentes. Eram 3 contra 3. Mas naquele campo o jogo não passou do 0 x 0.
O apê era uma mansão em um bairro nobre: cinco quartos, camas para sete pessoas, três banheiros, sala imensa, sala de jantar, cozinha com mesa onde cabíamos todos. Ah, e uma suíte com banheira de hidromassagem e espelho gigante. Mas cobertor, nada. Para piorar, o aquecedor era desligado na pior hora, de madrugada, sabe-se lá por quê.
A bolsa não era muito gorda. E todo mundo queria economizar o que podia e não podia para desbravar a Europa. Logo, nada de compras. O jeito era improvisar para não gastar os minguados euros com um edredon. Era fevereiro, inverno, e só tínhamos os lençóis fininhos que couberam nas malas.
Na hora de dormir, eu virava múmia: só deixava as narinas de fora e a roupa que vestia era tanta que mal me mexia. Me escondia em meia dúzia de blusas, meia-calça e meia de lã, cachecol, luva, gorro. Mas não era suficiente. Até que alguém lembrou que os casacos grossos e compridos podiam ser úteis naquele momento difícil. Para também aquecer pés e pernas deitávamos sob uma capa deles em vez de vesti-los. Para a mais baixinha, dois eram suficientes para cobrir todo o corpo. Para o mais alto, três.
O cenário, à noite, já não era nada promissor. Mas o tiro de misericórdia na libido feminina foi dado com o dia claro. Na primeira manhã dos seis sob o mesmo teto, um dos morenos desponta na sala. Cabelo desgrenhado, passos lentos, olhar distraído. E as pernas metidas numa inesquecível calça de flanela apertadinha, bege e quadriculada que só chegava até o meio da canela.
Graças ao frio, estava criada a irmandade Mercosur.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Fogo na cruz
O que fazer para surpreender o público se não dava para adaptar o final? Nem pensar em experimentalismos, que a platéia, católica, não ia tolerar de jeito nenhum.
A resposta veio da novela O Rei do Gado. Do sucesso global saiu quase todo o novo elenco, e sob o chapéu do cowboy-playboy Marcos Mezenga estava a estrela principal. Fábio Assunção de cabelo comprido era O Jesus Cristo Superstar.
A recepção à novidade foi calorosa. Acompanharam, contritos, a traição de Judas em um palco. A luz se apaga e o lanterninha guia todos para outro cenário grandioso. A luz se acende, o Pilatos do Jackson Antunes (o Charles Bronson brasileiro) lava as mãos. Apaga e acende, via-crúcis. Luz de novo, a crucificação.
Aí, a temperatura subiu pra valer. De barba cerrada e coroa de espinhos, Fábio Assunção trocou a túnica que tudo escondia por aquele trapinho que tapava o básico. Foi quando a galera feminina deixou a fé de lado e se transportou para um show do Wando. Choveram calcinhas e sutiãs aos pés da cruz. E com o som dos amplificadores abafado pelos gritos de "lindoooooo", "gostooooooso", o galã olhou para o céu, concentrou-se e rogou:
-- "Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem".
domingo, 13 de janeiro de 2008
O muso do cemitério
Duas gurias estavam de férias pela primeira vez em Buenos Aires. Foram fazer o circuito clássico de turista calouro. Passearam pela chique Recoleta e entraram no cemitério, que é ponto turístico com direito a visita guiada. O ápice do passeio é ver onde estão os restos da Evita Perón. Eis que no lugar mais improvável, entre mausoléus e anjos de mármore, fez-se luz. Debruçado, fazendo movimentos vigorosos com um paninho na mão direita, um deus greco-argentino limpava uma tumba. Esse era um Calvin Klein jeans. Moreno, sexy e lustrador de lápide.
Diante do coveiro-muso, elas se olharam e suplicaram:
- Me enterra! Me enterra!
P.S.: Durante alguns anos, há muito tempo, fui repórter policial. Era praticamente uma setorista de cemitério. Freqüentei muito o São João Batista, o Caju, o Jardim da Saudade. E jamais, em tempo algum, vi algo parecido com um Gianecchini jogar uma pá de cal em alguém.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
Comédias da vida privada portuguesa
Duro e com fome, meu primo entrou numa lanchonete no Porto.
- Por favor, um pastel.
- Queres de quê?
- Ah, sei lá.
- Sei lá não tem.
- Qualquer um tá bom.
- Ó pá, qualquer um também não tem.
- Então tá. Os pastéis são quê?
- De carne e de queijo.
- Me dá um de carne.
- Só tem de queijo.
Num hotel de Lisboa, a aeromoça aperta o botão do elevador. Um minuto depois, a porta se abre.
- Tá subindo ou tá descendo?
- Nem um nem outro. Não estás a ver que ele está parado?
P.S.: Meus pais, todos os meus avós e 4 dos meus cinco tios são lusitanos. A miséria do pós-guerra empurrou minha família pra cá. Atracaram no Rio em 1950 e 1951. Logo, os meus portugas já estão aculturados faz tempo. Lá em casa ninguém dá essas mancadas, não. Eu juro!
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Salsa com luvas de boxe
A boa da noite era sair pra dançar em Medellín. Lá fora, chuva e friozinho. Lá dentro, palmeira de plástico, areia e barraca de praia na recepção. Mulheres ganhavam colares havaianos e homens, chapéus de palha que estavam mais pra festa junina que pra clima praiano. No som, só salsa e reguetón. Como na época estava muuuuito na onda latina, tava bom pra mim. Parecia uma danceteria como as daqui - fora as músicas, claro.
Estava enganada.
Eu, três amigos colombianos e um gaúcho, nos sentamos em uma mesa bem em frente ao que parecia um pequeno bar. Era o Oxybar, que vinha com um subtítulo: Recárgate (recarregue-se). Vendiam doses de oxigênio. Você sentava e uma mocinha sexy colocava aquele tubinho em forma de arco e com duas entradas para as narinas. É esse aí mesmo que você está pensando, o dos hospitais, aquele que colocam nos moribundos. Mas, como marketing é tudo (o ´produto´ era oferecido em uns tubos borbulhantes de cores vibrantes), havia clientes. Que onda cheirar oxigênio assim provoca, não consigo imaginar. Eu é que não ia gastar meus pesos colombianos comprando ar!
Mas o mais estranho ficou pra madrugada. Durante a noite, o locutor não parava de convocar as boxers para o confronto. Ofereciam um dinheirinho para quem se animasse. Como lá havia um monte de dançarinas de shortinho pensei que elas iam subir no ringue. Que era só para criar um suspense, que era um show (bizarro) da casa. Que mulher faria isso numa danceteria? Preferiria ficar sem a resposta. Mas como vocês podem ver na foto acima, duas moças que pagaram entrada pra estar ali se animaram. Vestiram as luvas e o protetor de rosto, morderam o de dentes (era ´profissa´ a coisa!) e foram à luta, literalmente. E devem ter sido incentivadas pelos namorados. Porque pra topar subir ali para sair descabelada, amassada e suada só já estando com a companhia garantida, vamos combinar.
Ah, também sorteavam um carro.
terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Sin tetas no hay paraíso
-Eu quero comprar uma camiseta desse programa. Onde eu consigo uma?
Eu pensei: 'deve ser uma novelinha trash estilo comédia de jovem retardado americano na puberdade'. Que nada! O título é a coisa mais kitsch que já ouvi nos últimos tempos, sem dúvida. Mas Sin tetas... é uma mistura de drama com suspense, adaptação de um livro inspirado em histórias reais.
A protagonista, Catalina, é uma adolescente linda e pobre como suas vizinhas de Pereira, uma cidade lá pros lados de Medellín. Tinha o mesmo sonho delas: virar a preferida de um traqueto (traficante) e passar a vida sendo recompensada com muito dinheiro pra gastar com roupas, sapatos e perfumes. Mas, diferente das amigas - a melhor delas era a Jéssica, La Diabla - ela não tinha peitão. E sin tetas no hay paraíso. Logo, para realizar o desejo número 1, a virgem Catalina precisava arrumar o que a natureza lhe negou. Depois de ser rejeitada por um chefão do tráfico por ser lisinha como uma criança, ela topa encarar o guarda-costas do sujeito mesmo. Afinal, ele prometeu arrumar o dinheiro para a cirurgia. Mas, na hora H, no estábulo, o cara não chegou sozinho. E essa é só a primeira das muitas tragédias da vida da Cata.
Apesar daqueles exageros de dramaturgia latina - a mãe dela, favelada, só usava sutiã meia-taça, acordava impecavelmente escovada e com as pestanas imensas, lindas, cheias de rímel preto que não borrava nunca - a minissérie é boa à beça. Não perdia um capítulo em Bogotá. Vim embora antes de ver o final. E rasguei sofregamente o pacote que meu anfitrião me enviou com o livro, alguns meses depois do meu regresso.
Ah, Sin tetas... estréia hoje no canal Telecinco, na Espanha. Eles compraram os direitos e refilmaram a história.
Avisos insólitos aos navegantes 3: ´sin tetas´ não tem festa
.
Sim, é isso mesmo. Você entrava na danceteria, preenchia um formulário e ... ´toda semana vamos escolher uma vencedora que poderá começar sua transformação pessoal e disfrutar do grande prêmio.... um implante de silicone´. Os caras sorteavam peitos!
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Avisos Insólitos aos Navegantes 2
Avisos Insólitos aos Navegantes
Se a gente parar pra pensar em todas as promessas de obras megalômanas, verbas milionárias liberadas para empreiteiras, metrô até a Barra da Tijuca para os Jogos Pan-Americanos do Rio (alguém já saltou na estação Alvorada? ou na Riocentro?) até que a sigla para a Fundação para o Desenvolvimento Urbano faz todo o sentido...