Outro dia revelei o mico de um colega que não sabia espanhol e se enrolou com a língua no sentido físico e abstrato da coisa. Mas saber falar o idioma de Cervantes não te livra de enrascadas. Se as diferenças lingüísticas entre Brasil e Portugal já inspiram um milhão de piadas, imagine conviver com gente de 10 nacionalidades diferentes que falam espanhol? No afã de aumentar meu vocabulário, fui incorporando um regionalismo aqui, outro ali quando vivi em Madri e me metendo em situações embaraçosas. Às vezes soltava uma frase cândida na Espanha que era a maior sacanagem na Argentina.
Logo que cheguei, o problema era a pronúncia. Para que fazer o CH soar como TCH se a palavra era igualzinha em português, por exemplo? Se eles entendem o meu chocolate, tá bom, pensei. Fui usar a mesma lógica para o RR. `Estava atrasada e tive que correr por todo el metro´. Também tasquei um ´Rubinho não é bom corredor´. Sem vibrar a língua no céu da boca, o meu correr e corredor soaram como coger e cogedor para eles. Se estivesse só no meio de espanhóis, menos mal, mas diante de 18 latinos... O grupo explodiu numa gargalhada feroz. Coger é transar e cogedor é garanhão na América do Sul. Tinha acabado de dizer que eu era uma versão sobre trilhos da ´Dama do Lotação´.
A pior armadilha foi um iogurte de morangos. Li lá na embalagem: con trozos de fresa. Não ia continuar usando a palavra pedazos si existia outra, mais diferente do português, mais sofisticada. Legal, desde aquela compra no supermercado meus pedaços viraram trozos. Até que um dia depois do jantar, eu e três argentinos reunidos na cozinha, virei para o meu amigo -- que é praticamente um modelo Armani -- e pedi com a maior gentileza do mundo para que ele me desse, por favor, un trozo de seu chocolate. Ele me respondeu com um sorriso sacana e um dueto de gargalhadas ao fundo. Na verdade eu pedira aquilo dele. Ai, ai.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
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