sexta-feira, 21 de março de 2008

Caribe gaúcho


Já vai tarde o verão que acaba de dar adeus. Aqui no Rio tomamos mais banho de chuva que de mar e até vestimos casaco para enfrentar 16,6 graus há uns dois meses. Eu esperava muito da estação. Voltara de umas férias frustradas no Caribe, em novembro, e queria revanche debaixo do sol carioca.

Antes de aterrissar nas areias da minha cidade, parei três dias em Porto Alegre. A idéia era bater papo com amigos, conhecer melhor a capital do Rio Grande do Sul, sair para dançar. A minha fúria veranista estava guardada para a Cidade Maravilhosa. Mas fui levada para Capão da Canoa, a uma hora e meia da capital sob um céu sem nuvens e o calor com os quais sonhei e não vi em uma semana de férias nos litorais costa-riquenho e panamenho. Me empolguei. Enfiei na mochila biquíni, boné, canga, óculos de sol, chinelo e dois protetores solares ainda lacrados.

Diante da minha animação, meus cicerones gaúchos, constrangidos, passaram a viagem tratando de baixar a bola do litoral rio-grandense. “A praia é horrível”. “Não é banho de mar, é banho de lodo”. “Você entra de branco e sai de preto”. O circo dos horrores incluía até uma tempestade de areia: “Não dá nem para ficar só tomando sol. O vento nordeste é insuportável”. Meu amigo Rodrigo, o irmão e a mãe praticamente pediam desculpas por levar uma moradora do Rio de Janeiro para Aquele lugar.

Eis que numa curva surge o mar de Capão. “Tá verde!”, gritaram, como quem comemora um gol. E não era só: as ondas estavam pequenas, com espuma branquinha e água na temperatura ideal. Ainda tinha uma brisa para aliviar o calor. Um grupo de nativas desconfiadas dava as costas para o mar e se bronzeava no gramado da praça perto da praia. É uma estratégia já habitual, adotada para driblar a tal ventania que, imaginavam, chegaria a qualquer momento.

Depois de uma semana de chuva no Caribe, e várias outras cinzentas no Rio, confesso: peguei a melhor praia dos últimos cinco meses em Capão da Canoa. Colegas gaúchos que vivem aqui duvidam dessa história. Mas eu juro que é verdade!