Impossível esquecer meu aniversário de 13 anos. Há quase 20 anos passei um 10 de julho brincando de Cleópatra e passeando de camelo diante das pirâmides do Egito. Estava lá com minha família para conhecer os pais e irmãos de meu tio egípcio, que já não via o Rio Nilo fazia mais de 10 anos.
As pirâmides e a esfinge são impressionantes, o Nilo é imponente, e rasgar o Saara de carro por uma estrada onde se dirige horas sem encontrar uma alma foi deliciosamente assustador. Mas, para mim, o mais marcante foi a visita a uma cidadezinha chamada Ras El Barr.
Antes de chegar ao Egito, paramos alguns dias em Londres, onde o tio morava com minha madrinha e minha prima. A família que nos recebeu era padrão classe média alta. Teríamos um motorista full time e casa de praia, além de teto no Cairo, claro. Inexperientes em estadas além Greenwich, construímos logo a imagem de conforto que uma viagem assim no Ocidente prometeria. Bastou pisar no aeroporto da capital para ver que estávamos enganados. Ar-condicionado, não havia nem no museu do Cairo. Àquela época, era preciso entrar em lista organizada pelo governo para comprar eletrodomésticos. E a espera era longa. O jeito era se virar para aliviar o calor sufocante com antigos ventiladores de pé. Meu tio estava tão surpreso quanto nós. Já não reconhecia mais o país que deixara para estudar na Inglaterra.
Aí chegou o dia de conhecer Ras El Barr. Tem mar, carioca, malandro, acha que tá em casa. Então lá fomos nós dar uma volta no lugarejo como quem cruza Ipanema, de boné, óculos de sol, short, camiseta e chinelo.
E a cidade parou para ver o doce balanço da família Domingues a caminho do mar. Sob um sol escaldante, mulheres de véu e túnica que só deixava pés e mãos descobertos riam e nos apontavam pelas ruas. Na praia, os homens mergulhavam de short, mas elas só se desfaziam do véu para furar as ondas. Achamos mais prudente ficar na varanda de um restaurante à beira-mar digerindo aquela aula de Antropologia.