Um bom viajante sempre volta com a mochila cheia de boas histórias, principalmente sobre os contrastes de costumes. Conversar com nativos e provar um pouquinho do dia-a-dia do lugar que se visita longe dos clichês turísticos fazem parte desse pacote. Mas quando a viagem é um pouco mais longa que as férias convencionais, a gente acaba trazendo na mala alguns hábitos também. O estrangeiro e o familiar se misturam numa coqueteleira cultural. Foi o que aconteceu comigo e com o rum com Coca-cola.
Tudo é culpa dos amigos latinos com quem convivi em Madri. Apesar de viver na Espanha, o contato estreito foi com eles, não com espanhóis. Por isso, a temporada madrilenha foi uma imersão na América Latina. Naqueles seis meses, a Coca-cola passou a ser indispensável, apesar de coadjuvante, nas festas no lar Mercosur, apelido do apartamento onde morava. Os argentinos gostavam de Coca com fernet, mas o hit da casa era rum com Coca-cola, bebida que embalou o único porre para valer da minha vida. A Cuba Libre - que lá era apenas "ron con Coca" - rivalizava com a loura gelada.
Voltei para o Rio de Janeiro e, de vez em quando, furo o bloqueio imposto pelo monopólio da (amarga) cerveja e peço a bebida dos piratas misturada com refrigerante.
- Moço, é mais Coca-cola que álcool, tá?
Se o que serve é ambulante, complemento:
- Faz um desconto aí? Você não vai gastar quase nada da bebida mesmo...
Cada vez que digo isso é como se estivesse pedindo uma pedrinha de gelo na Sibéria. "Isso meu avô bebia quando era jovem", ou risadas de espanto é o que costumo ouvir. Não dos garçons, que já são treinados para manter a fleuma diante de qualquer bizarrice, mas dos que dividem a mesa ou a calçada comigo.
Mas eu, sentindo-me uma estrangeira no meio da boemia carioca, insisto:
- Moço, me dá mais rum com Coca?
domingo, 17 de fevereiro de 2008
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