sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Vitrines que escondem


Do início do século XX até 1986, se ali já estivesse espetada, essa placa seria cínica e sádica. Seria algo como um "Bem-vindos ao inferno". Afinal, o que esperava um homem ao ingressar no presídio de Punta Carretas, em Montevidéu? As salas e celas de onde ecoavam gritos de torturados deram lugar a prateleiras para onde hoje conflui, feliz, a classe média uruguaia. Saíram as algemas, entraram os cartões de crédito. Desde 1994, o edifício virou um shopping center. Do horror das grades só sobraram a fachada principal e um portal da antiga construção. E nada de placas informando o que diabos significa um arco de pedra monumental dentro do shopping. Afinal, nada de estragar o prazer consumista. O máximo que a jovem atendente do serviço ao cliente revela é que houve uma fuga cinematográfica ali. Dois cliques na Internet e descubro que foi em 1971, quando mais de 100 guerrilheiros do grupo tupamaros conseguiram a liberdade. Uma história escondida pelas vitrines.

 

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