Eles estão por toda parte. Onde quer que você vá no Rio tem um gaúcho. Na casa em frente a dos meus pais tinha um do tipo caricatura, com bigodão. No meu trabalho há pelo menos 'trées'. A namorada do meu irmão não é de lá mas usa 'capaz' como vírgula e bebe chimarrão com a mesma freqüência com que eu tomo mate gelado. Hoje, a tietagem explícita de uma colega ao mais carioca dos gaúchos -- que ela encontrou na praia, claro -- me levou de volta a minha primeira viagem a Porto Alegre, em 2006.
O papo começou no Jornalismo e acabou no futebol.
- O cara ganhou uma Libertadores e o Campeonato Mundial para o Grêmio, era ídolo do Brasil todo, mas foi para o Rio e mudaram o nome dele - me dizia o gremista, chateado.
- Ele não é Renato Gaúcho! Ele é O Renato!!! - completou, indignado, e ainda não resignado, 20 anos após o craque ter se mudado para cá e ganhado o apelido que o diferenciava dos xarás da bola.
- Os outros que mudassem de nome, ele NÃO!!!
Para mim é impossível imaginar a arquibancada festejando o jogador sem aquela cadência RENAAAATO... GAÚÚÚÚÚCHO, batendo palmas com as mãos para cima. Não dá para soltar um RENAAAATO PORTALUUUUUPPI. Mas ele tá identificado assim na página oficial do Grêmio na Internet, na galeria dos heróis do clube. Só no pé da matéria admitem que ele "carregaria para o resto da carreira" o apelido famoso. Orgulhosos, os sulistas não reconhecem na alcunha uma homenagem às coisas boas do Sul. Quando ele aparece por lá, o Olímpico ainda vibra de saudade. Soltam um RENATOOOO ou simplesmente NAAAAAAAATO, que, fala sério, é fofo demais e não combina com ele.
Pois nunca se soube que o atleta se incomodasse com o novo nome. Graças a esse batismo as novas gerações sabem sua origem já que ele adotou o carioca way of life: virou craque no futevôlei, fez da praia seu quintal e, aos pouquinhos, foi transformando a marra em malandragem. O sotaque ele botou na mala e despachou para o Rio Grande do Sul faz tempo.
Tudo bem, se os riograndenses se ofendem com o Gaúcho que grudamos nele, podemos mudar isso. Agora ídolo também dos tricolores daqui e com a mão já roçando a taça da Libertadores, teremos orgulho de rebatizá-lo, definitivamente, de Renato Carioca. E fazer ecoar um ARRA, URRU, O RENATO É NOSSO!!!
P.S.: Pai, Dinho, não troquem a fechadura de casa. No fundo do meu peito continua batendo, calada, uma cruz de malta. Eu juro!!!!
quinta-feira, 22 de maio de 2008
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Babel espanhola
Outro dia revelei o mico de um colega que não sabia espanhol e se enrolou com a língua no sentido físico e abstrato da coisa. Mas saber falar o idioma de Cervantes não te livra de enrascadas. Se as diferenças lingüísticas entre Brasil e Portugal já inspiram um milhão de piadas, imagine conviver com gente de 10 nacionalidades diferentes que falam espanhol? No afã de aumentar meu vocabulário, fui incorporando um regionalismo aqui, outro ali quando vivi em Madri e me metendo em situações embaraçosas. Às vezes soltava uma frase cândida na Espanha que era a maior sacanagem na Argentina.
Logo que cheguei, o problema era a pronúncia. Para que fazer o CH soar como TCH se a palavra era igualzinha em português, por exemplo? Se eles entendem o meu chocolate, tá bom, pensei. Fui usar a mesma lógica para o RR. `Estava atrasada e tive que correr por todo el metro´. Também tasquei um ´Rubinho não é bom corredor´. Sem vibrar a língua no céu da boca, o meu correr e corredor soaram como coger e cogedor para eles. Se estivesse só no meio de espanhóis, menos mal, mas diante de 18 latinos... O grupo explodiu numa gargalhada feroz. Coger é transar e cogedor é garanhão na América do Sul. Tinha acabado de dizer que eu era uma versão sobre trilhos da ´Dama do Lotação´.
A pior armadilha foi um iogurte de morangos. Li lá na embalagem: con trozos de fresa. Não ia continuar usando a palavra pedazos si existia outra, mais diferente do português, mais sofisticada. Legal, desde aquela compra no supermercado meus pedaços viraram trozos. Até que um dia depois do jantar, eu e três argentinos reunidos na cozinha, virei para o meu amigo -- que é praticamente um modelo Armani -- e pedi com a maior gentileza do mundo para que ele me desse, por favor, un trozo de seu chocolate. Ele me respondeu com um sorriso sacana e um dueto de gargalhadas ao fundo. Na verdade eu pedira aquilo dele. Ai, ai.
Logo que cheguei, o problema era a pronúncia. Para que fazer o CH soar como TCH se a palavra era igualzinha em português, por exemplo? Se eles entendem o meu chocolate, tá bom, pensei. Fui usar a mesma lógica para o RR. `Estava atrasada e tive que correr por todo el metro´. Também tasquei um ´Rubinho não é bom corredor´. Sem vibrar a língua no céu da boca, o meu correr e corredor soaram como coger e cogedor para eles. Se estivesse só no meio de espanhóis, menos mal, mas diante de 18 latinos... O grupo explodiu numa gargalhada feroz. Coger é transar e cogedor é garanhão na América do Sul. Tinha acabado de dizer que eu era uma versão sobre trilhos da ´Dama do Lotação´.
A pior armadilha foi um iogurte de morangos. Li lá na embalagem: con trozos de fresa. Não ia continuar usando a palavra pedazos si existia outra, mais diferente do português, mais sofisticada. Legal, desde aquela compra no supermercado meus pedaços viraram trozos. Até que um dia depois do jantar, eu e três argentinos reunidos na cozinha, virei para o meu amigo -- que é praticamente um modelo Armani -- e pedi com a maior gentileza do mundo para que ele me desse, por favor, un trozo de seu chocolate. Ele me respondeu com um sorriso sacana e um dueto de gargalhadas ao fundo. Na verdade eu pedira aquilo dele. Ai, ai.
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