domingo, 30 de março de 2008
Pret-à-porter sobre trilhos
domingo, 23 de março de 2008
A banca pornô
Era véspera do primeiro dia de férias e o chefe pediu para ontem uma tarefa que ela acreditava ser para dali a dois meses. Teve que trabalhar até as 23h, não havia remédio. Ih... e a encomenda importante para levar na viagem? Já estava até paga. O jeito foi pedir à vizinha para pegar o pacote para ela.
Solícita, a amiga aproveitou que o marido descera com um amigo para comprar bebida para o jantar e terceirizou a tarefa.
- O quê? Você tá me zoando?
- Não, não é piada. É isso mesmo que você ouviu. É na banca aí da esquina. O cara já está esperando ir alguém lá pegar a encomenda.
Os amigos pararam em frente à banca, minuciosamente descrita minutos antes. Era ali mesmo. O estabelecimento também se dedicava a outras mídias além da impressa, outros negócios, digamos. As paredes estavam forradas com DVDs eróticos piratas. Entre anões pervertidos, maratonistas sexuais e afins, pergunta o marido:
- Che, ficou pronta a cópia do 'Chicken Little' e do 'Corcunda de Notre Dame', da Disney? É para aquela moça do 200 que sempre compra desenhos animados aqui.
O jornaleiro olhou para o amigo do cara, sério e vestido de terno e gravata, e despachou logo a dupla enxugando uma gorda gota de suor que escorria pelo pescoço.
- A gente não faz isso aqui, não.
Chicken Little e o Corcunda já não estavam mais ali há algumas horas. Foram fazer companhia a astros pornôs nacionais no porta-malas de um policial das redondezas.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Caribe gaúcho
Já vai tarde o verão que acaba de dar adeus. Aqui no Rio tomamos mais banho de chuva que de mar e até vestimos casaco para enfrentar 16,6 graus há uns dois meses. Eu esperava muito da estação. Voltara de umas férias frustradas no Caribe, em novembro, e queria revanche debaixo do sol carioca.
Antes de aterrissar nas areias da minha cidade, parei três dias em Porto Alegre. A idéia era bater papo com amigos, conhecer melhor a capital do Rio Grande do Sul, sair para dançar. A minha fúria veranista estava guardada para a Cidade Maravilhosa. Mas fui levada para Capão da Canoa, a uma hora e meia da capital sob um céu sem nuvens e o calor com os quais sonhei e não vi em uma semana de férias nos litorais costa-riquenho e panamenho. Me empolguei. Enfiei na mochila biquíni, boné, canga, óculos de sol, chinelo e dois protetores solares ainda lacrados.
Diante da minha animação, meus cicerones gaúchos, constrangidos, passaram a viagem tratando de baixar a bola do litoral rio-grandense. “A praia é horrível”. “Não é banho de mar, é banho de lodo”. “Você entra de branco e sai de preto”. O circo dos horrores incluía até uma tempestade de areia: “Não dá nem para ficar só tomando sol. O vento nordeste é insuportável”. Meu amigo Rodrigo, o irmão e a mãe praticamente pediam desculpas por levar uma moradora do Rio de Janeiro para Aquele lugar.
Eis que numa curva surge o mar de Capão. “Tá verde!”, gritaram, como quem comemora um gol. E não era só: as ondas estavam pequenas, com espuma branquinha e água na temperatura ideal. Ainda tinha uma brisa para aliviar o calor. Um grupo de nativas desconfiadas dava as costas para o mar e se bronzeava no gramado da praça perto da praia. É uma estratégia já habitual, adotada para driblar a tal ventania que, imaginavam, chegaria a qualquer momento.
Depois de uma semana de chuva no Caribe, e várias outras cinzentas no Rio, confesso: peguei a melhor praia dos últimos cinco meses em Capão da Canoa. Colegas gaúchos que vivem aqui duvidam dessa história. Mas eu juro que é verdade!
terça-feira, 18 de março de 2008
Caras e cores da Argentina
Em La Cumbre, Córdoba, me esbaldei na festa de casamento de um casal binacional, o peruano Renzo e a argentina María. Para provar que o afeto não tem fronteiras, além do Brasil, Chile, Peru, Espanha e Itália mandaram representantes.
Na Quebrada de Humauaca, no Norte, me surpreendi com a abrupta mudança de montanhas verdejantes para morros áridos com cáctus em profusão. E, em Purmamarca, um arco-íris em forma de rocha, o Cerro de los Siete Colores, alegrou meu dia. Lá também fui apresentada à porção andina do país, com habitantes de pele morena, cabelos negros e traços culturais muito semelhantes aos que vi no Peru.
Por ali também, a quase 4 mil metros de altitude, me perdi no branco das salinas imensas, onde as nuvens pareciam ao alcance das mãos. A sede de fotos era insaciável: eu, toda de preto, contrastava com a brancura daquela lâmina salgada cercada de montanhas. O intenso reflexo da luz do sol praticamente me cegava, mas não me vencia. Mesmo sem identificar direito o que a telinha de minha câmera digital enquadrava, não lhe dava sossego.
E ainda teve a colonial Salta, La Linda, que merece o apelido; a acolhedora Jujuy; as reconstruídas ruínas de La Pucará, em Tilcara; o ônibus antigo e cheio de passageiros com o qual cruzei um rio como se estivesse em uma picape 4x4, a caminho de Iruya; as deliciosas quinoa e carne de lhama de Humauaca.
Mas o melhor da Argentina foram os argentinos.
Inteligente, carinhosa, e ávida por aprender português, a estrela da viagem foi a pequena grande Anaclara, 7 anos de muita perspicácia e curiosidade. Filha dos meus anfitriões, os simpáticos e para lá de gente boa Moncho e Alejandra, moradores de Jujuy. Já em Buenos Aires, aprendi com Néstor, de La Plata, que Herbert Vianna se inspirou em um livro de Jorge Amado para compor Lanterna dos Afogados. Em português perfeito, me contou de seu interesse pela cultura brasileira, que alimenta com programas de televisão verde-amarelos postados na Internet em... Angola! Sua namorada, Rita, me presenteou com a máscara de Kulan, o espírito sedutor feminino dos aborígenes da Terra do Fogo, a quem tenho que honrar.
Os novos amigos foram presente da minha querida hermana Marcela, com quem sempre tenho algo a aprender. Ela, Caro e Esteban compõem minha família argentina.
Pelas cores das montanhas, pelo branco das salinas, pelas antigas e novas amizades grito como o ator de Caballos Salvajes:
LA PUTA QUE VALE LA PENA ESTAR VIVA!
segunda-feira, 3 de março de 2008
Comunicação rápida sobre totoras
domingo, 2 de março de 2008
A saudade também é doce
Cabia a minha mãe manter o vaivém de envelopes em dia. Além de notícias de casa, chegavam as do Brasil, através de revistas e jornais que paravam na soleira da minha porta. Eu mandava também umas fotos em papel de vez em quando.
Mas minha mãe se superou nas surpresas via Correios. Estávamos perto da Páscoa, fazendo mil planos de viagem quando um envelope retangular e recheado chega às minhas mãos, trazendo um pouco da minha casa para a Espanha.
Era um pedaço de amor e saudade em forma de barra de chocolate.